segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Meninos, eu vi!




Manhã de um sábado de 2010 em Campinas. Sócrates tinha combinado de nos encontrar. O "nós" aqui é o de menos. Continuação de uma conversa sobre esporte e cidadania. E, ainda, previdência complementar pra jogadores de futebol que, numa profissão tão curta, não raro se veem na miséria. Não é o caso do Magrão, ídolo nacional, médico de profissão, articulista de jornais e revistas. É pura preocupação de quem já socorreu diversos companheiros de geração em apuros.

Socrates está em Ribeirão, a mais de 200km. Vamos a Arcadas, distrito de Amparo, 50km a frente. Bar do Gil. Não tem endereço. Mistura de armazém de secos e molhados com a melhor casquinha de siri e pratos de frutos do mar que se conhece. Escondido na vilinha. Com coreto. Para poucos.

Ele diz que encontra. Vem de carro, sozinho. "Tem GPS?" Ri de nós e diz que nunca precisou de um pra encontrar um boteco. Duvidamos. Três horas depois chega no bar, pra nossa surpresa. Doutor Sócrates, o brasileiro, pára a rua, o armazem, o bairro, a nossa e as outras mesas. Uma lenda. Eu não paro de pensar no meu pai. Corintiano fanático. Meu irmão tá junto e emocionado.

É o cara: da seleção de 82, da democracia corintiana, das Diretas Já!

O papo passa pelo programa de aposentadoria de atletas, a formação de jovens pras Olimpíadas, o combate ao racismo, a desigualdade social...Pois é, tudo isso. Não fazia nada pela metade, o Magrão. Tinha causa, lado, caráter, integridade e coerência. E era voluntário, sempre.

Fim do oficial - ele dirigiu 250 km de carro, sozinho! - é a vez do papo furado entre amigos forjados numa só luta, que estiveram do mesmo lado sempre, ainda que houvessem demorado a se cruzar. Ele bebe vinho, ri, não se cansa das fotos com as crianças que continuam a chegar. Sua fama atravessa gerações. Cai a noite e nos despedimos.

Personagem coadjuvante nesta história, tive a honra de estar com ele outras vezes. Há dez dias, ouvi que ele falava com meu marido ao telefone. Ficaram amigos. Um alívio saber que se recuperava... Ontem, a notícia.

Fumava, bebia, lutava. Um gauche. "Socrates morreu de tanto viver, que é uma boa forma de morrer", escreveu o jornalista Flávio Gomes.

Meninos, eu vi! Digo eu.

Texto de Geide Miguel

6 comentários:

Kito disse...

Adorei esta foto, do inesquecível Dr. Sócrates e o Ataliba

Anônimo disse...

Desculpa desvia o assunto, e ae jacob domingo tem jogo??

Jacob disse...

LEMBRANÇAS DE MOMENTOS FELIZES, ISSO É MUITO BOM!

ASSIM, COMO O NOSSO DE DOMINGO É PRA FICAR NA HISTORIA E REGISTRAR.

aval disse...

Hahaha... lembrei desta história no domingo.. a parte do "nunca precisei de GPS para encontrar um bar" é ótima! Agora ficou registrada.

Abs,

Lica disse...

Estudar medicina, ser jogador de futebol, ser santista, jogar no Corinthians, na seleção, fazer o movimento pelas diretas já, da democracia, era diferente; mas deixou este mundo de uma forma até que comum...é a vida; por isso é bom aproveita-la e muito.
Domingo o nosso churras foi 10, valeu Jacó pela organização e o Geterson que sofreu mas não foi assistir o jogo do timinho...será que não acreditava??!!!!
kkkkkkkk

Miltinho disse...

Tudo na vida infelizmente tem um fim, e para o Dr. Socrates veio como veio a minha mãe, cedo e precocemente, porém fica o consolo de que deixaram um legado.
O nosso churrasco foi muito bom, também não tinha como ser diferente, quando conseguimos reunir a grande família que com o tempo formamos impossível não ser "10" como disse o Lica.